Soneto do
amor total
Vinícius de
Moraes
Amo-te
tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
O soneto é
uma composição poética constituída por 14 versos, distribuídos, segundo o
modelo petrarquiano (também chamado "soneto italiano"), em 2 quadras
e 2 tercetos, as primeiras apresentando duas ordens de rimas e estes últimos
duas ou três ordens. O esquema rimático mais freqüente é:
a b b a / a b b a / c d c / c d c Tudo leva a crer que o soneto foi criado
no século XIII, pelas mãos do poeta siciliano Giacomo de Lentino, em Palermo. O
primeiro grande nome ligado ao soneto é o de Dante, devendo-se a outro mestre
da poesia, Petrarca, a consolidação e a difusão do modelo. Em Portugal, o
soneto teve como seu primeiro cultor o poeta Sá de Miranda. Camões dedicou-se
amplamente ao soneto, alcançando com ele alguns dos mais altos momentos da
literatura universal de todos os tempos. No Brasil seiscentista, Gregório de
Matos empregou o soneto tanto para a lírica sacra e amorosa quanto para a
satírica. Adiante, Cláudio Manuel da Costa firmou-se como sonetista de grande
valor, ajudando a fortalecer uma tradição que daria nomes como Olavo Bilac e
Cruz e Sousa, entre outros. Num primeiro momento, os modernistas se voltaram
contra o soneto, atitude inserida num amplo programa de ruptura com a "fôrma"
das formas fixas e dos padrões poéticos tradicionais. No entanto, depois de
instalado o verso livre e conquistadas tantas outras liberdades nos níveis da
estruturação e do conteúdo, poetas como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de
Andrade retornaram ao soneto. Vinicius de Moraes consolidou-se como grande
sonetista da moderna literatura brasileira e ajudou a popularizar a forma. O
soneto também pode ser estruturado em três quartetos e um dístico, sendo
chamado então "soneto inglês".
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